sábado, 16 de maio de 2009

Eis a razão da minha sílaba.

Porque a escrita retrata melhor que qualquer fotografia. Vai e resgata o que há de mais essencial. Nela não nos deixamos dispersar pelas cores, pela imagem ao fundo. Detemos-nos ao que está posto. Tudo se resume à expressão. E isto basta para se comunicar.
Permite o encontro. Refere o não dito. Cria e recria o que se passa. Remonta as tonalidades e define a textura. É uma forma de reinventar a paisagem.
Por fim, percorremos as muitas telas de uma mesma vida. Como quem recita as historias de um único conto. E o belo está neste eterno reencontro consigo.
Os velhos escritos soam como imagens antigas। Percursos ultrapassados que compuseram nossas andanças. Relendo velhas rimas olhamos para quem fomos. E isto nos permite ver o quanto avançamos e que direção tomamos. Pois sabendo quem fui, sei onde estou e para onde desejo ir...

segunda-feira, 11 de maio de 2009

EIS O POEMA

VELHO TEMA
(VICENTE DE CARVALHO)

Só a leve esperança, em toda a vida,
Disfarça a pena de viver, mais nada;
Nem é mais a existência, resumida,
Que uma grande esperança malograda.

O eterno sonho da alma desterrada,
Sonho que a traz ansiosa e embevecida,
É uma hora feliz, sempre adiada
E que não chega nunca em toda a vida.

Essa felicidade que supomos,
Árvore milagrosa que sonhamos
Toda arreada de dourados pomos,

Existe, sim: mas nós não a alcançamos
Porque está sempre apenas onde a pomos
E nunca a pomos onde nós estamos.

Da remota e sempre nova constatação

— É esta a dádiva que te espera: A felicidade!
Que me espera?
— Sim. Está a te esperar desde sempre.
Como? Se eu sempre a perseguí?
— Pois bem... Passaste tanto tempo a perseguir, aquilo que só podias encontrar em ti!
­— Fatídica constatação... Estiveste atrás daquilo que somente tu poderias te dar.
Não percebeste a tamanha força das tuas mãos, pois foram em outras que buscaste onde te apoiar...
Foi com esmero que pude em fim constatar. E aquilo que uma vida inteira não fui capaz de me dizer. Segredei a mim mesma, como quem teme perceber.
Busquei em tantos, aquilo que somente em mim poderia encontrar: a verdadeira felicidade!
Claro que não coloco nessas linhas a idéia de que para sermos felizes nos bastamos. Não com esse teor egoísta que pode soar de imediato. Mas essa é uma daquelas verdades, que por mais simples que possa nos parecer. Sempre nos pega de surpresa quando chegamos a sua constatação.
Sim! Somente podemos encontrar a verdadeira felicidade em nós!
Porque somente nós mesmos podemos nos conceder a felicidade que buscamos. Somente nós somos capazes de reconhecer a tamanha beleza de nossas vidas. Nas coisas simples e também nas mais complexas.
Somente nós podemos ver e (re) ver com outros e novos olhos o que antes não parecia ter cor. Somente nós podemos ousar ser do tamanho que queremos ser. Exatamente porque somos nós mesmos que sempre pomos nossa felicidade distante de onde estamos!
Não há como não me remeter a este poema LINDO de Vicente Carvalho! Poema que tem algo novo e intenso a me ensinar TODOS os dias!
"Existe, sim: mas nós não a alcançamos
Porque está sempre apenas onde a pomos
E nunca a pomos onde nós estamos”

domingo, 3 de maio de 2009

CINE PE! Do curta “O anão que virou gigante”

É como uma simples admiradora da sétima arte, que exponho minha inteira adesão a eventos como o CINE PE. Nada melhor do que prestigiar um evento que se propõe a expor talentos nacionais, na perspectiva de não apenas divulgar, mas popularizar o gosto pelo cinema criativo e menos comercial.
Este ano estive presente, apenas, na quinta feira, mas fui contemplada com uma programação criativa, propositiva e muito bem humorada. Como não poderei fazer referência a todos, escolhi falar sobre o curta O anão que virou gigante.
A princípio, o vídeo não chamou minha atenção. Tratava-se de um curta metragem de animação, que abordava a história de um garoto que foi “anão e gigante em uma mesma vida”. No mínimo estranho... Mas o filme chama a atenção pela perspicácia do seu roteirista. Marão se utiliza de uma história bizarra, para (com uma sátira impecável) refletir sobre como foi para uma criança ser um anão até os 12 anos de idade e, a partir dos 20, passar por um processo de crescimento exacerbado.
O roteirista aborda o processo de exclusão vivido por esse garoto na infância, por se tratar de uma pessoa de baixa estatura, e como esse fator foi determinante para a constituição de sua personalidade. O gozado é que aos 20 anos, o mesmo se depara com um processo inverso. Precisa, agora, adaptar-se a ser um cara muito mais alto que a maioria das pessoas e a tudo o que isso pode significar.
De forma muito bem humorada o filme questiona o poder atribuído a aparência e como esta é determinante na constituição das nossas impressões sobre nós e sobre o outro. Como o peso, a estatura, a cor ou qualquer outro componente sensível pode determinar a forma como somos tratados e tratamos as outras pessoas.
É com uma narrativa acessível, cômica e muito reflexiva, que o autor convida crianças e adultos a pensarem sobre o valor atribuído a aparência e como nos cerceamos ao permitir que a mesma tenha o poder de determinar quem somos. Por fim, coloca a necessidade de irmos além da aparência e nos determos a quem realmente somos e ao que há de mais essencial em nós e nos outros. LINDO!!! PARABÉNS MARÃO!
“MEUS FILHOS IRÃO AO CINE-PE” rsrs