sábado, 13 de julho de 2013

Aquilo que me habita...

As palavras , assim como os sentimentos, fazem morada em nosso corpo. Em cada parte há algo a ser dito ou silenciado. Expressado ou enterrado dentro de nós. Por isso o toque é tão particular. Não se trata apenas de um corpo a ser percebido. São palavras e sentimentos, que nos habitam, sendo sentidos e acariciados... Cada parte de nós, cada trecho da nossa própria história, sentindo a interferência do outro... Não são apenas as suas mãos a acariciarem o meu rosto. São as suas histórias a tocando as minhas. Não são apenas os seus dedos deslizando pelos meus cabelos. São seus refrãos e acordes soando, lado a lado, aos meus... São melodias e dissonâncias ecoando juntas. Por isso, não banalizemos o toque. Não subalternizemos o corpo. Preservemos nossa morada, nossas histórias. Tenhamos respeito pela nossa canção... Nele habitamos e por ele somos habitados, inundamos (inclusive) por afeto. O corpo não fala... Ele canta! Conta histórias... Corpo tem memória, faz rimas, traz de longe o que está tão perto. Reconhece... Corpo, corpóreo, corporifica... Canta, acalanta e, às vezes, coisifica...

quarta-feira, 13 de março de 2013

Ao mar simplesmente amar...

Quantas dúvidas cabem num só lugar. Os percursos do feminino são cheios de nuances. Meandros tão curvilíneos quanto o nosso corpo. Rotas tão emaranhadas, onde presente, passado e futuro encontram-se ponto a ponto, buscando um lugar comum, uma morada, um abrigo... Um lugar para descansar, condensar, navegar todas as incertezas... E o meu barco a velas tenta seus ajustes, ordena-se frente aos ventos. Arqueia, levanta... Cordas, nós, sobem as velas, baixam-se velas... Remendos nos rasgões que os ventos romperam... Ajustes. Erguem-se as velas, ajustam-se mastros e o mar a vista, avista ainda muitos mares a navegar. Rompem-se ondas, quebra-se mar. Ranhuras nos corais, corpo a sangrar... Mas barco também é abrigo e há suprimentos para sanar. Tempestades a vista, agita-se amar... Mas ao mar, basta-se o mar... Ao mar, basta-se Amar... E leva-se tempo ao ofício de navegar. Sete mares de vida aptos ao ensino e ao mar basta-se nadar... Ao mar, basta-se amar. Novamente, erguem-se âncoras, ajustam-se velas. Lenços brancos acenam partidas e ao mar cabe o ofício do mar, ao mar cabe navegar... Ao mar, simplesmente amar...

domingo, 6 de janeiro de 2013

Eu te amo do meu jeito...

Sempre que escuto alguém utilizar essa expressão não consigo deixar de pensar no quanto as pessoas são egoístas e forjam sentimentos de igual maneira. Afinal, acredito que se o meu amor é voltado para mim e a minha maneira, não há nenhum amor nisso... O amor não é apenas um sentimento. São atitudes, uma espécie de dádiva. Geralmente o imagino como um presente e, definitivamente, não posso presentear uma pessoa, tendo como referência apenas o meu desejo. Penso que o amor se expressa na minha capacidade de perceber o quanto e como o outro precisa ser amado e amá-lo como ele necessita ser. Afinal, do que vale um pai amar tanto o seu filho se este filho não sentir-se amado pelo pai? Esse amor será sempre um vazio para filho, mesmo sendo um inteiro para o pai. Se o objetivo é amar, jamais poderia eu amá-lo a partir do meu paradigma de amor. Se o objetivo é amá-lo, eu preciso percebê-lo enquanto ser e identificar o que o faz sentir-se amado e assim, amá-lo! O meu amor pelo outro precisa ser um inteiro pra mim e para o outro. Se eu o amo, apenas com aquilo que julgo ser essencial, sou egoísta e julgo o mundo a partir de mim mesmo. Agindo assim, jamais vou enxergar o outro além das minhas próprias necessidades... Amar é perceber o outro. É, de alguma maneira, sentir o que ele está sentindo e tentar perceber as suas necessidades nisso. Até por quê, além de amado, o outro necessita sentir-se amado. Nesse sentido, avalio que você jamais vai conseguir fazer alguém sentir-se amado sem andar junto, percebendo e gastando tempo em conhecer o outro, em suas necessidades. Assim, jamais diga a uma pessoa seja ela, adulta ou criança, que a ama do seu jeito. Pelo contrário, deseje conhecê-la, percebê-la de tal modo que o amor que você lhe devote seja o mais próximo do amor que ela precisa receber. Amor nunca foi só um sentimento. Amor é atitude, o sentimento é apenas o motivador, uma espécie de propulsor para que o amor se operacionalize, ganhe expressão concreta, seja quase que tangível... Patrícia Gonçalves.