terça-feira, 3 de julho de 2007

FACES DO MEU SILÊNCIO

O meu silêncio não lhe diz nada porque ele fala para mim. Ele me diz coisas que preferia não escutar, ou mesmo que não existissem. Ele expressa dúvidas, insatisfações, medos e tormentos comuns a quem vive processos contraditórios, marcados por inflexões e descontinuidades. É típico da espécie humana, principalmente, a feminina.
O meu silêncio é repressor, enganoso e instigante, mas quando não estou pronta para falar e ouvir é o único recurso do qual disponho.
As vezes me incomoda, pois remonta a construções que prefiro negar, mas que são constantemente afirmadas pelos meus calados questionamentos.
Permeado por conflitos, dúvidas e perguntas insistentes, ele fala de mim, porém você não compreende. Ele coloca em xeque as certezas que penso ter e por vezes responde perguntas que geralmente temo indagar.
O meu silêncio é como eu, nega e afirma simultaneamente. É forte, frágil, doce, amargo, sutil, e impetuoso. Não existe para ser por inteiro decodificado, mas somente expressa o sincrético e tortuoso mundo dos que, como eu, encontram-se apaixonados. Patrícia Gonçalves/2005

2 comentários:

Patrícia disse...

Quando escutei o que diziam os meus silencios diante de você, percebi que não tinha coragam de ouvir minhas proprias constatações...
O inevitável aconteceu: constatamos o fim de "nós", a partir daí fomos só eu e você.

Natalie Dowsley disse...

Lindo, Pati...
minha mono girou em torno do silêncio... e tu fez um descrição linda, simples, profunda, sobre esse companheiro de todos nós... Lindo mesmo! Amei!